quinta-feira, 17 de abril de 2008

Passando.


"... tive vontade de sentar na calçada da rua augusta e
chorar, mas preferi entrar numa livraria, comprar um caderno lindo e anotar
sonhos" - Caio F. Abreu

Meu aniversário se passou e nem comentá-lo eu pude. Engraçado. Há 22 anos atrás, uma menina de 21 e um menino de 22 esperavam ansiosamente a chegada de sua primeira filha. Aquela menininha que veio de surpresa, mas que sempre foi muito aguardada. Que foi a primeira. Filha, neta, sobrinha e todos os parentescos que você possa imaginar.
Ser a primeira sempre me fez carregar um fardo muito pesado. O fardo da perfeição. Um fardo que foi amenizado por todos os mimos e regalias que uma guria em minha situação costuma ter. Mas que não deixou de fazer parte de mim.
Hoje, com a mesma idade que meu pai tinha quando eu nasci me vejo de outro ponto de vista. Vejo uma menina tornando-se mulher, vejo a minha vida tal e qual os parágrafos de um conto ou os capítulos de um livro. Conto por tudo acontecer tão intensa e rapidamente que por vezes perco o fôlego. Livro por sentimentos, memórias, pessoas demorarem tanto a passar.
Hoje, consigo vislumbrar um futuro diferente do que eu imaginava com os meus doces quinze anos. Sei que tudo é mais árduo, mais difícil. Sei que por vezes vou dizer bom dia e ninguém vai me abraçar. Sei que às vezes terei que escolher um abraço. Mas posso ter certeza de que nunca vou ter o abraço que realmente desejaria.
Hoje, estou nostálgica. Na sei se é por conta do filme mental que sempre passa na sessão da tarde de nossas mentes nessas datas ou se é por conta de toda a agitação que a cidade passou por conta de festas que fazem lembrar um passado tão doce que me foi tirado tão amargamente. Só sei que o meu passado, a cada dia que torna-se um lugar calmo e seguro, no qual eu nunca poderei voltar para fazer durar um pouco mais. E isso me dói.
Hoje, o que me consola é que pelo menos aproveitei tudo o que deveria aproveitar nos momentos de alegria ou tristeza. Chorei todos os choros. Sorri todos os sorrisos. Dancei todas as danças. Experimentei todos os sabores, dos extremamente doces aos absolutamente amargos. Não tenho nenhuma dívida com meu passado. Só saudades.
Hoje, queria poder saber do meu futuro. Eu pedi isso na hora do parabéns. Mas não queria saber se vou ganhar dinheiro com a profissão que escolhi, se vou terminar a minha monografia, se viajarei mais, se escreverei meu livro de contos, se encontrarei meu grande amor ou se o amor que o destino trouxe para mim nessa vida vai voltar para os meus braços, se viverei até os 112 anos. Isso será conseqüência das escolhas que eu fizer e das atitudes que tomar ao longo do tempo. Queria saber se serei feliz independentemente do que acontecer. Acho que mereço sabe? Uma vez, li em algum lugar que o sofrimento potencializa o aprendizado. Eu só tenho medo eu obtenha a sabedoria que teria com os meus 112 anos com apenas 25. Não quero dar as minhas cabeçadas em vão. Queria ter certeza de que elas são somente os degraus que eu preciso transpor para chegar à felicidade extrema.
Hoje, gostaria de ter mais certezas. Certeza do que quero para mim. Certeza do que quero de mim. Tenho garra, tenho gana, tenho paciência. Mas não tenho grandes ambições, grandes objetivos, aliás, eu não tenho nenhum objetivo. Já tive, um dia. E ele me foi tirado de uma forma tão brusca que acho que a partir daquele momento decidi que deixaria a vida me levar. De certa forma tem dado certo, mas daqui a algum tempo, eu vou precisar ter um objetivo de novo. E não vou saber lidar com ele.
Hoje, eu sou um paradoxo. Sou certeza. Sou dúvida. Sou saudade. Sou solidão de amigos. Sou solidão de um amor que eu deixei passar. Sou alegria misturada com tristeza. Sou o destino brigando com o querer. Sou trabalho. Sou aprendizado amargo e doce. Sou eu querendo entender e acalmar o meu próprio eu. Por que ninguém vai fazer isso por mim. E se eu não me apoiar, ninguém vai. Sou tudo. E sou nada.

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